Dona Maria
Em 2022 o Nobel de Economia foi para justificar a importância dos bancos.
Correria aos bancos geram crises. E crises geram mais crises. É sistêmico.
Quando eu era criança, minha mãe vivia em crise financeira. Era sistêmico.
Mas o grande problema sistêmico, na verdade, era a inflação. Não era a minha mãe.
No primeiro dia útil do mês era uma festa. Era o dia do pagamento. Era o dia das compras.
Rolava ir ao supermercado, encher o tanque do carro e dar uma volta no shopping.
O dinheiro tinha que render muito naquele dia.
Porque no dia seguinte, ele (o dinheiro), ia valer menos. E no dia seguinte, menos e menos.
Quando chegava o fim do mês, sempre faltava.
Não era descontrole de gastos. Era descontrole de preços.
Então eu e minha mãe saíamos para buscar crédito.
Nos bancos.
Só que os bancos não achavam que a minha mãe tinha um bom “perfil”.
Sorte que o Mappin, a Mesbla, o Eldorado, a G. Aronson inventaram o cheque pré-datado.
Minha mãe me deixava preencher os cheques. Ela sempre andava com dois talões na bolsa.
Mas aí tinha que ter fundos no banco para “cobrir” os cheques.
Neste momento entrava a Fininvest, a fila de Penhor da Caixa e a venda da Dona Maria.
A Dona Maria e o marido dela, filhos de japoneses, trabalhavam no sistema de caderneta.
Você fazia a compra na venda dela e ela anotava na caderneta.
A letra dela era indecifrável. Mas estava tudo lá.
1 quilo de feijão. 1.000 cruzados, cruzeiros, cruzeiros novos, cruzados novos, URVs, reais?
Num certo dia do mês, minha mãe pagava o saldo. Ou parte do saldo. Crédito puro.
O banco da Dona Maria evitava crises sistêmicas.