2022

2022

2022 foi ano em que me converti em um homem do século 21.

Aos 43 anos, tenho mais vivências e memórias neste século do que no século anterior.

É estranho.

Minha mãe foi uma mulher do século 20. Ela morreu em 2013, a duas semanas de fazer 75.

Eu tinha 21, quando começou o século 21.

Eu vi Matrix em junho de 1999. Era um filme do século 21. Era um filme meu.

Não que eu não gostasse de Fellini. Gostava mais do Nino Rota. Que música é Amarcord.

Mas a minha mãe não viu Matrix. Ou se viu, não entendeu.

Eu vi De Volta para o Futuro 2 com a minha mãe no cinema, em 1989. No Iguatemi.

Neste ano caiu o muro de Berlim. Eu me lembro das pessoas martelando o muro.

Eu vi De Volta para o Futuro 3 com a minha mãe no cinema, em 1990.

Neste ano foi a copa do mundo da Itália. Eu fiz o álbum de figurinhas. Completo.

A minha infância foi no século 20. Nos anos 80.

A minha adolescência foi no século 20. Nos anos 90.

Eu fui ao show do Michael Jackson. E não fui ao show dos Guns N’ Roses.

Os meus tios eram o passado, que tinham viajado ao longo do tempo.

Agora, eu sou o passado que viajou no tempo. Eu me converti em um homem do futuro.

Eu sou o futuro do menino que viu o Marty McFly no hoverboard em 2015.

Eu passei de 2015. 2015 era o futuro. Eu estou em 2022. No futuro do futuro.

Quando você viaja no tempo, fica uma persistência da memória.

Como no quadro do Dali. Os relógios derretem.

Eu viajei no tempo e no espaço.

Dizem que o futuro a deus pertence. Não. O futuro a mim pertence.

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